Entrevista sobre Bioplastia de Pênis (Engrossamento)

Entrevista com Dr. Eduardo Lopes – urologista, cirurgião geral e legista forense -, mestre e doutor em ciências, professor de urologia, cirurgia e medicina legal, pós-graduado em medicina estética pela Faculdade Souza Marques/BWS/MEC, ex-membro do departamento de andrologia da sociedade brasileira de urologia (SBU), e ex-editor do BODAU (boletim de urologia da SBU) para o Blog da Saúde.

Blog da Saúde: Dr. Eduardo, boa tarde! O que é bioplastia?

EL – É o termo criado pelo prof. Nacul – cirurgião plástico lá do RGS – e usado para caracterizar o preenchimento de áreas corporais com produtos homólogos, heterólogos, biocompatíveis, inertes, sintéticos ou não. Esse tipo de material só deve ser injetado se estiver liberado pelo órgão máximo regulatório, no caso em questão – a ANVISA (clique aqui para ler a portaria sobre o assunto) –, por profissional médico qualificado que tenha amplo domínios das técnicas, e capacitado para tratar eventuais complicações. É um recurso muito usado em cirurgia plástica, dermatologia, medicina estética, e eventualmente em outras especialidades como a urologia.

Blog da Saúde: Temos visto denúncias de complicações graves com até mortes de pacientes mesmo em procedimentos realizados por médicos. Por que isso tem acontecido professor?

EL – Não basta ser médico para aplicar. É preciso estar qualificado, respeitar a técnica, não extrapolar, não inventar nada que não tenha sido estudado e publicado. Não ultrapassar os limites da própria técnica, e as condições de cada paciente que deve ser avaliado individualmente. O procedimento, por mais simples que seja não pode ser aplicado em locais sem a devida condição estrutural.

Nunca em apartamentos ou clínicas clandestinas. O fator financeiro não pode preponderar sobre a segurança do paciente. Todo procedimento médico, invasivo ou não, tem riscos. Não dá para entender também a postura de pacientes que aceitam fazer esse tipo de procedimento em locais impróprios, e permitindo ser injetadas em seu próprio corpo quantidades inadequadas.

Quantidades absurdamente altas e de uma única vez. No caso do médico preso recentemente (Dr. Bumbum) ele não respeitou nenhum princípio técnico, médico, ético ou moral. Segundo foi divulgado ele aplicou (misturou) de um vez só diversos tipos de preenchedores (de uso médico e não médico) em quantidades elevadas, e em uma estrutura residencial (um apartamento residencial). Parece que fez uso de produtos também não liberados para uso humano associados com outros liberados. As pessoas – por falta de informação e/ou economia – colocam sua vida em risco. Nem sempre o barato é o melhor e mais indicado.

O PMMA é um produto com baixíssimos riscos e complicações quando usado adequadamente. Esse tipo de produto já foi largamente estudado em diversas pesquisas publicadas aqui e no exterior. Por isso a ANVISA liberou para uso médico. Veja por exemplo esse resultado de mais de 400 casos do Prof. Nacul lá do RGS (clique aqui para ler na íntegra os resultados dele).

É preciso muito cuidado com propagandas autopromocionais e que banalizam procedimentos invasivos por mais simples que parecem ser. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento teria percebido pelas postagens do tal médico (Dr. Bumbum) no instagram que alguma coisa não estava normal naquela exposição toda. Recentemente vi uma postagem de outro médico em que ele publicava seu próprio resultado de exame laboratorial. Logo de cara esse tipo de postagem é – no mínimo – desaconselhada. Mostrava um resultado de uma dosagem de TESTOSTERONA TOTAL com mais de cinco mil (5.000) ng/dl, e dizia que essa elevação era natural. Ora isso é impossível de se conseguir naturalmente sem o uso de medicações em doses elevadíssimas.

E níveis elevados assim de testosterona produzem efeitos colaterais danosos para o organismo humano como, por exemplo: hipertrofia do coração, azoospermia (parada da produção de espermatozóides temporária ou definitiva), hemoconcentração (elevação da quantidade de hemácias no sangue) e suas consequências; espessamento da corda vocal com mudança da voz na mulher, pilificação excessiva, mudança na proporção dos ossos da face, etc e etc.

Entrei na postagem dele e o critiquei pela propaganda enganosa e pela mentira. Fui imediatamente bloqueado. Nesse particular não temos um conselho que seja investigativo, e esse tipo de profissional demora de ser localizado e punido. Enquanto isso ele comete crimes e faz vítimas.

Blog da Saúde: Entendo! Esclarecedor sua resposta! E no caso do homem que procura fazer a bioplastia em seu pênis? É possível engrossar o pênis? Quais os produtos que podem ser aplicados? Quais os riscos e se teria indicação de se fazer bioplastia no pênis?

EL – Essa é uma questão muito particular e especifica. Primeiro é preciso avaliar se tem realmente necessidade ou é uma impressão equivocada do homem por conceitos errados. Na maioria dos casos não existe necessidade a não ser pela vontade do homem de ter um pênis maior ou mais grosso. Envolve questões de autoestima baixa e problemas psicológicos. O tamanho do pênis varia muito, e na maioria das vezes não existe nenhum problema na atividade sexual. A mulher/homem, por exemplo, está satisfeita/o e isso é coisa apenas do seu parceiro/a.

No entanto em alguns casos o pênis é muito fino ou pequeno podendo ser inclusive classificado como micropênis. O tamanho do pênis poderia ser dividido de maneira didática em micropênis, pênis pequeno, médio e pênis grande quanto ao comprimento. Pênis abaixo de 08 centímetros em ereção são classificados como micropênis. Até 12 – pênis pequeno.

Entre 12 e 15 – médio. E grande, acima de 15 centímetros. As espessuras (diâmetros) em repouso são muito variáveis até porque alguns dilatam mais do que outros durante a ereção. Tem pênis que são muito retráteis, e em repouso ficam bastante reduzidos de tamanho. Tem a questão da gordura em pacientes com sobrepeso e obesos, principalmente, que acabam por “esconder” o pênis em repouso (retraído). Os diâmetros, medidos em repouso e no terço médio, variam de 07 a 18/20 ou mais cm. Dá para imaginar as inúmeras variações dentro da normalidade de forma que o paciente precisa de uma avaliação especializada, e mesmo alguns urologistas não tem interesse ou formação para tratar. Muitos têm até preconceito, e chegam até a pensar: “Pô, o pênis do cara é maior do que o meu, e ele está querendo aumentar?”.

Por conta desse “desinteresse” de muitos especialistas escrevi um artigo que foi publicado no BODAU (boletim da urologia da SBU: clique aqui para acessar e ler) sob o título “A caixa preta da urologia”. Esse artigo abordava o “preconceito” até mesmo entre os urologistas que não gostavam de sequer discutir muito mesmo pesquisar e publicar sobre o assunto.  Por conta desse afastamento do primeiro especialista da área (o urologista) esses pacientes acabam sendo tratados pelo cirurgião plástico, vascular ou geral. Especialistas que não tem o mesmo conhecimento e formação do urologista. Fato que pode ser facilmente comprovado com uma rápida pesquisa na internet.

Blog da Saúde: Professor desculpe a interrupção, mas tem casos que alguma coisa precisa ser feita. E aí o que o paciente precisa fazer?

EL – Sem dúvida. Quando o paciente tem micropênis ou o pênis é pequeno/fino, e ele tem problema de autoestima que somente a terapia não irá resolver, não consegue estabelecer uma atividade sexual normal, é preciso fazer alguma coisa até porque muitos cometem até suicídio ou se isolam. Tive um paciente que foi ser padre sem ter a devida vocação, mas somente para ser celibata. E mesmo em consulta já idoso ele me revelou esse fato. Era um homem extremamente contido e frustrado. Enfim, insatisfeito e atormentado porque jamais conseguiu manter uma atividade sexual próxima do mínimo satisfatório.

A mulher tem maior sensibilidade e percebe o pênis apenas nos 08 cm iniciais da vagina e, portanto, se fosse para ela escolher o pênis que daria mais prazer – provavelmente – optaria por um pênis médio e mais grosso. Com o envelhecimento a vagina perde gordura, e os músculos elevadores do ânus – que compõem a parte posterior da vagina – se afastam devido à perda de tonicidade decorrente da menopausa e dos múltiplos partos. De forma que com o tempo – mesmo casais sem nenhum problema sexual prévio – passam a ter porque a vagina ficou “mais folgada’. Isso é preciso também ser avaliado, abordado e tratado. Hoje existem lasers que fazem a vagina se “contrair”, tornando-as mais “fechadas” mesmo sem cirurgia, melhorando muito a percepção do pênis e proporcionando mais prazer a ambos.

Em casos selecionados é possível “engrossar” o pênis do homem fazendo uma bioplastia. Não existe o material ideal ainda. Hoje temos o polimetilmetacrilato (PMMA) e o dimetilmetacrilato (DMMA) que são substâncias biocompatíveis, liberadas pela ANVISA (clique aqui para ler a portaria do órgão regulador), e com baixíssima absorção parcial em longo prazo – tipo 10 anos ou mais. Outro produto – mas já do tipo absorvível (em torno de dois anos) -, e que poderia ser usado se não fosse o alto custo, é a hidroxiapatita de cálcio (Radiesse). Apesar da queda da patente e do início da sua manipulação pelas farmácias de manipulação existentes no país, ainda tem custo elevado para usos em quantidades maiores.

Todas essas substâncias são largamente usadas há muitos anos pelos colegas cirurgiões plásticos, e por alguns urologistas (clique aqui para o consenso brasileiro). No pênis temos usado – em casos selecionados – sempre na sua forma de gel mais pastoso, e em locais que permitam a sua remoção caso seja necessário no futuro. A aplicação no pênis só pode ser feita sob a pele. Nunca na glande ou dentro do corpo cavernoso pelo risco de complicações sérias e irreversíveis.

 

Blog da Saúde: Quais seriam essas complicações do engrossamento do pênis?

 

EL – Para começar o pênis é um órgão dinâmico que fica em estado de repouso e em ereção. Logo, assimetria é uma coisa esperada e normal. O produto é aplicado no pênis em repouso, e ele vai funcionar em estado ereto, logo como ter parâmetros que permitam evitar assimetrias? Impossível no momento. Ecmoses (pele roxa), sangramento e infecção são complicações mais raras e que podem complicar a vida do paciente.

Portanto, todos os cuidados assépticos e antissépticos devem ser adotados para reduzir a quase zero esses riscos. Nunca o paciente deve aceitar que nenhum produto seja aplicado por não médico, e mais ainda se for médico e propor fazer o procedimento em locais que não sejam clínicas ou hospitais legalmente estabelecidos.

Quando bem indicado e realizado a satisfação é o resultado alcançado. Tudo deve ser documentado com fotos, e a bioplastia autorizada por escrito em um consentimento livre e esclarecido oferecido ao paciente.

 

Em nenhum dos nossos casos o paciente ficou insatisfeito. Pelo contrário, voltou para fazer uma ou mais aplicação porque eles querem sempre que o pênis fique mais grosso. Muitos retornam com o parceiro/parceira pedindo mais. Em muitos casos precisamos negar uma nova reaplicação. Isso acontece com frequência comigo. O bom é inimigo do ótimo. Em muitos casos o/a parceira/o já está satisfeito/a mais o cidadão quer mais!

 

Temos o cuidado se pedir sempre uma avaliação psicológica, e acompanhamento em muitos casos, porque esses pacientes – como falei acima – têm sérios problemas com a autoestima, e isoladamente o procedimento da bioplastia não irá resolver. Enfim a questão é polêmica, e ainda não existe nem o produto ideal para ser aplicado nem o tratamento adequado a ser instituído. Algo precisa ser feito. Pesquisas precisam ser realizadas e publicadas porque ainda vivemos tempos obscuros.